Novidade

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A resposta de Maria - 1º Domingo de Advento


A resposta de Maria: reflexão para o 1º Domingo de Advento a partir de Lucas 1:26-38

O anjo Gabriel foi levar uma notícia muito estranha a uma jovem do povo judeu, uma que poderia passar despercebida, não fosse o que estava por acontecer. Ela poderia ter sido uma entre tantas a receber o nome da irmã de Moisés. Mas não foi assim.

De início, ele a saúda chamando-a de agraciada. Ela não entende o motivo. Então, encontramos sua primeira resposta: o silêncio acompanhado de reflexão.

Em seguida, o anjo anuncia a mensagem, dizendo que ela conceberia e daria à luz um filho muito especial, que já nasceria com promessas impressionantes. Maria não duvida das promessas todas, mas se incomoda com um detalhe, a aparente impossibilidade de uma virgem, como ela, conceber. Aqui, sua segunda resposta: uma pergunta específica.

Maria pergunta como aconteceria aquilo se ela nunca tinha feito sexo. O anjo explica o sobrenatural e apresenta como evidência da possibilidade do impossível o caso da própria parenta de Maria, Isabel, que há pouco concebera mesmo sendo idosa e estéril. Finaliza sua fala observando que nada é impossível para Deus. Agora, nos deparamos com a terceira resposta de Maria: a afirmação de sua submissão diante da mensagem anunciada.

“Aqui está a serva do Senhor. Que se faça segundo a tua palavra”. Ela é decidida. E esta sua decisão parece repercutir em todo seu comportamento subsequente ao longo da narrativa do Evangelho.

Silêncio, pergunta pertinente e submissão decidida. Essa resposta em três etapas talvez seja uma boa receita para nós também, quando nos deparamos com pontos do pensamento cristão que nos parecem paradoxais ou mesmo problemáticos. Silenciar significa esperar para compreender melhor, em vez de logo negar, reclamar ou debochar. Perguntar uma pergunta certeira significa não perder-se em discussões sobre o que não é o ponto que realmente provoca a dúvida. Submeter-se significa reconhecer que a mensagem do Eterno não depende, no extremo, de nossa total compreensão. Ela requer, isso sim, nossa submissão.

Maria foi sábia assim diante da melhor notícia do mundo. Nós também recebemos tão maravilhosa notícia nestes dias, quando começamos a nos preparar para lembrarmo-nos do nascimento de Jesus, o Cristo, no tempo histórico, a refletirmos sobre o fato de que ele nasce nos corações de muitas pessoas quando sua mensagem é anunciada, e a aguardarmos pela sua segunda vinda. Nisto consiste a tríplice tarefa que temos neste período de Advento. 

Há coisas que não entendemos sobre os temas próprios deste tempo. Vamos tagarelar de imediato? Vamos perder-nos em perguntas erráticas? Vamos desprezar a autoridade da Palavra do Senhor?

Eu, velho homem que também sou, tendo a tudo isso. Mas quero fazer como Maria: calar-me, perguntar o que preciso mesmo perguntar, e submeter-me à revelação do Criador. Nisso, há sabedoria. Isso é bom fazer.

Fragmento de oração

Senhor, ajuda-me a saber reagir diante daquilo que não compreendo plenamente. Ajuda-me a ter paciência para não dizer coisas sem sentido, sabedoria para fazer as perguntas certas, e submissão para aceitar a resposta que vem de ti. E obrigado por Cristo, que com seu incompreensível amor me fez acolhido por ti, para a vida eterna.

Um abraço,

Cesar

P.S. Neste mês, não apresentarei o "Devocional do Mês", mas, se possível, quatro reflexões como esta, uma para cada Domingo de Advento. Espero que lhes sirva para edificação, ainda que não compartilhem do mesmo calendário litúrgico.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

fofoca: ceia cruel e desprovida de amor


Não tem como não falar de outras pessoas. Mas tem como escolher o que falar e a maneira de falar. Hoje, comento sobre uma escolha e uma maneira específicas, que costumamos chamar de fofoca. É algo que não me lembro de ter sofrido contra mim há muito tempo. Mas que nos circunda e ameaça. Dentro e fora.

De imediato, o leitor pensará que mencionarei o famoso texto de Tiago, no qual o irmão do Senhor Jesus se refere à língua como um pequenino órgão que faz grandes estragos. Mas se o leitor já pensou nisso, não preciso lembrar outra vez. Vou direto à imagem que me ocorreu.

Alguns falam de outras pessoas e se deliciam com isso. Jantam a imagem, a reputação e a honra alheia como se fosse uma picanha gordurosa e suculenta. Fatiam, picam, espetam o garfo e abocanham diante de todos. Pode-se ver o caldo escorrendo de seus lábios, misturado ao veneno de suas presas. O prazer de se destroçar o que, na visão deles, já é fraco, os domina por completo. E o colesterol dessa refeição perniciosa vai rápido por suas veias e começa a entupir as entradas de seus corações. O próprio sangue já não chega e sai tão facilmente por ali. Claro que não. Eles, aos poucos, querem mais e mais vítimas e já não percebem o que fazem, pois o sangue que vivificaria suas consciências já não pulsa como d'antes. O coração está mais fraco. Este vício, como tantos outros, tem mecanismos para gerar dependência e impedir o escape do viciado. Amor, que é o remédio para tantos males, não circula mais; é um item esquecido em meio a tantos conceitos e a tantas buscas que maqueiam a grande falta.

É isso. O amor não marca o rítmo mais de nossas vidas. Não é mais visto como a norma maior, que faz agregar e não separar, produz aproximação e cuidado, não discriminação e ataques irônicos. E se não há amor, o vício de disseminar más impressões domina por completo. Mas, onde está o cristianismo se não há amor? Se olhamos uma possível e talvez inverídica falha não como oportunidade para auxílio, mas sim para humilhações e ironias? Onde está o espelho para revelar nossa mediocridade se nos emaranharmos em verborragias maléficas e nos esquecermos do Verbo vivo que se encarnou para nos amar e ensinar o amor? Nos esquecemos do espelho, chamado Palavra de Deus. Deixamo-lo empoeirado, longe de nossas vistas, e o trocamos por um joguinho mesquinho de amizades e desafetos, tornando-nos em um clubinho social desengonçado, em vez de nos dispormos a sermos feitos Igreja e Corpo pelo Espírito que nos é dado. Somos cristãos?

Somos “cristãos”, sem dúvida, pois esse título hoje se recebe por opção religiosa. Mas não seremos de Cristo se o amor não for nossa razão e nosso objetivo. Quem não ama, não conhece a Deus. (Não sou eu quem o diz.) Conhece, sim, as mazelas de uma alma entregue a si mesma, contra o próximo e contra o Eterno, ainda que suas obras o iludam do contrário.

Que a Graça nos alcance, e ilumine nossas densas trevas. Que o amor maior de Cristo, demonstrado na cruz, seja forte e potente, para nos resgatar de nossas vidinhas simuladas. Que o convite para receber do corpo e do sangue de Cristo na Santa Ceia nos seja muito mais atrativo do que os milhares de convites para devorar a imagem alheia, como conviva de uma conversa infrutífera. Essa é minha oração, para mim e meus irmãos. Porque eu, eu só nEle confio, já que em mim mesmo não há nada que me conduza para o bom uso das palavras. Eu só nEle espero. E espero que nos converta todos os dias ao seu amor e à sua sabedoria.

Termino com versos maravilhosos e sugiro a música de que os tirei. Para composições assim serve nossa habilidade de usar a voz articulada, não para tantas outras coisinhas que só mencionar seria vergonhoso.

“Se eu não tiver amor, de nada valerá. Eu viverei só pra saber o que é viver em vão!”
Stênio Marcius
 

Um abraço fraterno, de um alguém que tenta crescer junto, tropeçando e se levantando (e, eventualmente, esperando receber algum apoio quando o terreno está irregular, e nunca empurrões que terminem de derrubar).
C. M. R.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O mundo virtual e suas vitrines, os seres e o Ser



O quadro atual

Descobrimos uma maneira de ser mais, de ampliar o âmbito de ação e a extensão da existência. Éramos em um lugarejo, em uma vila, talvez em uma cidade. Conhecíamos algumas pessoas, amigos e família. Com eles, compartilhávamos a curta vida. Nos olhos deles, víamos refletido o nosso ser. Era pouco para seres tão capazes.

Fizemo-nos virtuais. Divulgamo-nos na rede e, em rede, nos fizemos conhecidos. Criamos vitrines para a apresentação de nós mesmos como produtos à venda. Dispusemo-nos em oferta atrativa. Claro, ninguém coloca na vitrine de uma loja as ofertas menos interessantes. Ninguém coloca nas vitrines virtuais dados mais monótonos do cotidiano, mas somente os pontos de interesse que caracterizam uma vida intensa, feliz, animada, ou uma espiritualidade robusta e ascética. Jusfiticamos assim o nosso direito de exisitir sobre a Terra. Que todos saibam que merecemos viver, afinal, somos tão interessantes ou justos. Assim, na verdade, nos inventamos em palavras e imagens selecionadas e, sem perceber, nos coisificamos.

Inflados pela possibilidade de sermos expandidos, damos eco ao ego e nos deleitamos em nós mesmos.

O homem do deserto

Mas vem a memória de certo João a incomodar. No deserto, vestido de peles e comendo gafanhoto. Ele não ia às cidades buscar a fama. Eram os outros que se achegavam a ele. Eles o buscavam no nada, não na vitrine. Ele não havia montado vitrine alguma. Na poeira, gritava uma mensagem dura, mas que comunicava uma esperança. Apontava, mas não para suas próprias qualidades, atividades e intensidades. Havia um que era maior que ele: o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. E era esse justamente que devia se evidenciar. O homem do deserto, por sua vez, se fazia menor. Não alardeava a si mesmo, não expandia seu ser, mas apontava para o Ser, que se fazia também pequeno, humano, para alcançar os humanos.

João Batista não adornou sua face para fazê-la conhecida, elogiada, bem afamada. Não. Deu-a a tapa. E a teve levada sobre uma bandeja, para que a maravilhosa vinda do Cristo fosse conhecida.

O dilema: o Ser e os seres

Expandir o ser, estar numa pequena moradia e afetar o mundo. Isso é muito atrativo. Contudo, chega a nos enganar, pois nos esquecemos de que, no fundo, não somos. Apenas existimos a partir dAquele que realmente é, do único e verdadeiro Ser. Esforçando-nos para ser mais, nos esquecemos da nulidade de nosso ser, iludindo-nos com falsas potencialidades. E nos esquecemos do Único que sustenta o significado da vida. Fazemo-nos maiores na ilusão de nossas negociações de fama. Mas, na verdade das coisas, tudo isso é vazio, e está longe da Verdade.

Olho e recolho-me, não à minha insignificância, mas no significado que me doa o Autor. É preciso rever conceitos, motivações, valores e ações, com sinceridade, paz e auxílio do Consolador.

Ao Eterno, a minha existência, que Nele mesmo se sutenta.


C. M. R., pois Cristo Me Redimiu





segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ideal libertário: variações



O ideal na bandeira de Minas
"Liberdade ainda que tardia"


O ideal da maioria dos ricos deste mundo
"Liberdade ainda que só minha"


O ideal da maioria dos pobres deste mundo
"Liberdade ainda que Sexta-feira de tardinha"


O ideal do Criador deste mundo
"E vocês conhecerão a verdade, e a verdade os libertará"



O responsável por este troço sou eu, Cesar M. R.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"Caiu na rotina!" Afinal, precisa acontecer isso?


A rotina é o temor de muitas pessoas. Não ter rotina, no entanto, talvez não seja uma alternativa viável. Ela é inevitável. Podemos detestá-la, mas precisamos dela. Uma empresa sem rotina não funciona, pois um funcionário não saberia os passos a seguir para cumprir uma determinada tarefa. Na infância, a rotina possiblilita um desenvolvimento um pouco mais livre do estresse. Na cozinha, só mesmo um chef com ingredientes abundantes e sem limite orçamentário poderia se dar ao luxo de não ser rotineiro jamais. No casamento... Bem, aí vem o contexto em que mais escutamos a frase: "Ah, é que caiu na rotina".

Muitos usam essa frase para justificar o fim ou a insatisfação com o relacionamento. A culpa deixa de estar nas pessoas e passa à Rotina, que se personifica, como um monstro que se deveria ter evitado. Evitar a rotina seria complicado. Sem rotina não se vive normalmente, como disse. Mas o que se pode evitar é "cair" na rotina. "Cair" dá a ideia de que a coisa é irrefletida, uma fatalidade. "Cair" é mais problema que a rotina em si. Assim, minha proposta não é aniquilar a rotina, mas a queda. Em vez de viver sem perceber o que acontece até que se caia em lugar indesejado, prefiro que se contrua uma rotina aprazível, pensada e observada.

Em vez de cair, construir. E construir possibilita planejar, observar problemas, pontos positivos e negativos. Construir uma rotina em casal, em família, é uma ação solidária de reconhecimento das necessidades e interesses do outro. E a própria rotina construída pode incluir o dever de se avaliar o que se contrói ao longo do tempo: "Essa rotina está boa para você?", "O que podemos fazer para melhorar?". E, claro, a diversão deve ter seu lugar em uma rotina saudável. E divertir tem tudo a ver com o "diverso", o "diferente". Isso significa que, mesmo na rotina, haverá espaço para variações e surpresas, em momentos propícios para isso.

Não estou pensando em coisas radicais, como por exemplo: "Querida, sabe aquele dinheiro da poupança que estamos juntando faz 3 anos? Pois é, tirei e comprei um pacote para as Ilhas Fiji? Não é o máximo?". Como disse antes, a rotina e também suas diversões devem ser conversadas solidariamente, e em consonância com as finanças. Claro, a rotina tem que ser compatível com a situação financeira da família (se não for assim, a dor de cabeça entrará para a rotina já já!). Uma ida a um parque, um piquenique, um passeio a uma cidade próxima, um jantar diferente, um agrado fora de data especial, um elogio criativo, um paparico inesperado, um beijo no meio do filme, uma música nova, um prato nunca antes preparado...

E, agora, eu fujo da rotina do texto, que já está se transformando em aconselhamento matrimonial, e vou pra comida: Quantos ingredientes você experimentou pela primeira na cozinha  vez neste ano? Seu prato é quase sempre igual, de segunda a segunda? A rotina do sabor também pode incluir o diverso. Este ano, para mim, foi especial por causa dos fungos. Preparei macarrão com shitake, comi lasanha de cogumelos silvestres com espinafre em um almoço especial à beira de um rio calmo, e tive cogumelos com ovos no café da manhã durante alguns dias. Também, me diverti com grão de bico e bacalhau, que antes não tinha usado na cozinha. E comi, pela primeira vez, mussaka, um prato grego que há muito queria conhecer. Ah, e experimentei quase dez tipos de queijos novos para meu paladar. Isso fez minha diversão nos momentos rotineiros das refeições. E você? Não inaugurou nenhum ingrediente ainda este ano? Tente! Ainda há tempo! E aproveite para divertir alguma pessoa que constrói a rotina com você! Prepare um almoço ou jantar especial para ele/ela.

E, claro, há algo de veras importante: Que o amor seja o tom de nossa rotina! Que tudo seja feito com amor ao próximo, para a glória do Criador, que renova rotineiramente suas misericórdias sobre nós, que, rotineiramente, insistimos em cometer erros semelhantes (como por exemplo, rotineiramente, não ligar para o que o semelhante pensa da rotina que insistimos em criar de modo egoísta).

Um abraço fraterno,

Cesar


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A verdade dividida: Não me esqueci do Drummond!


Estimados leitores e visitantes que, perdidos nos caminhos da virtualidade, acabaram esbarrando nesta cantina capenga, 

No dia 31 de Outubro, comemora-se o dia do nascimento de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros (e que não podia deixar de ser mineiro). No dia mesmo, não quis me manifestar sobre a comemoração, pois não queria competição com o dia da Reforma, que, embora menos poético, ecoa de forma mais intensa em mim nesses tempos. Agora, passados uns dias, esbarrei com um livro do poeta de ferro ao organizar umas caixas; resolvi lembrar dele por escrito, copiando aqui uma de suas poesias, uma que pode gerar ou ilustrar discussões teológicas interessantes. E isso é bom, pois falta-me inspiração para escrever algo de mim mesmo. Lá vai então:


A VERDADE DIVIDIDA

A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.