Praça da Liberdade - Foto Wikipedia
Eu não sou turismólogo
nem nada do tipo. Mas como todo mundo que gosta de viajar, um dia,
acabo pensando na seguinte pergunta: “Se eu não tivesse nascido na
minha cidade, será que eu ia querer vir fazer turismo aqui?” Daí,
resolvi escrivinhar este texto.
Vamos lá. A primeira
dificuldade que se encontra é o fato de que, geralmente, nós,
mineiros, estamos acostumados com a ideia de turismo de sol e mar.
Por isso, é difícil pensarmos em viajar para cidades do interior do
país. Eu mesmo, cheguei a duvidar que viria para cá um dia (se não
morasse aqui desde sempre), quando constatei que me falta ânimo para
desbravar outras capitais desprovidas de mar. Depois, contudo,
percebi que eu acabaria passando por aqui sim, como muitos que
realmente passam, de caminho para cidades históricas.
Não é
que Belo Horizonte não tenha o que se ver. E até que há coisas
interessantes, como o recém gestado
Circuito Cultural da Praça da Liberdade, o
Museu de Artes e Ofícios, o Conjunto Arquitetônico da
Lagoa da Pampulha (A Casa do Baile – onde ninguém mais dança -, A
Igreja de São Francisco de Assis – tem missa lá? -, o Museu de
Arte da Pampulha, anteriormente cassino – que vale a visita pela
arquitetura, não pela arte, já que a coleção nada tem de
importante- e o Iate Tênis Clube – que tem tênis mas não Iates!
- tudo projetado pelo bom e velho (!) Niemeyer), entre outras
coisinhas. Contudo, acontece que tudo isso pode justificar uma ou
duas diárias por aqui de alguém que esteja de passagem, mas não
chega a ser motivo uma viagem demorada e, por vezes, trabalhosa de
ônibus ou avião.
A
capital mineira está, a meu ver, fadada a ser um pouco parasita em
questão de turismo. Acho melhor assumirmos esse papel logo de vez e
usufruirmos o melhor possível dele. Se conseguirmos convencer cada
turista que visita outra cidade nas redondezas a passear um ou dois
dias por aqui, já teremos um avanço.
E quando
se trata das redondezas, temos sim grande vantagem sobre muitas
capitais. Qual a capital brasileira tem dois (2) patrimônios
mundiais da humanidade em um raio de 100Km? Pois é. Temos o
Santuário do Bom Jesus, em Congonhas do Campo, e a
cidade histórica de
Ouro Preto. Pro norte, um pouco mais longe,
encontra-se a cidade de JK,
Diamantina, cujo centro histórico também
é patrimônio mundial da humanidade reconhecido pela
UNESCO.
Falando
em políticos do passado, se o turista quiser ir um pouco mais longe,
a cerca de 200Km daqui, ele encontra São João Del Rei, terra do
Tancredo Neves. E, ali perto, um pouco tímida e não tão afeita a
grandiosidades políticas, está
Tiradentes (um xodó de cidade no
meio das montanhas!).
Claro,
nem só de história vive Minas e os arredores de BH. Pertinho daqui,
no município de Brumadinho, está o afamado
Instituto Inhotim, uma
mistura de gigantesco jardim botânico com monumental museu de arte
contemporânea. Bem, é um lugar afamado e caro. A entrada custa R$
28,00! E nem pense em fazer piquenique porque é proibido. E saiba
que o almocinho lá é ainda mais oneroso que a entrada. Enfim, é
pra quem gosta mesmo de arte contemporânea.
É claro
que no texto é mais fácil fazer esses deslocamentos. E aí está um
grande problema que acho que devia ser resolvido. Essas atrações
nas redondezas tinham que ser conectadas de modo mais prático para o
turista. Quem não puder alugar um carro vai ter sérias dificuldades
de locomoção. Tente ir de Congonhas do Campo para Ouro Preto de
ônibus sem voltar a BH! Tente ir de Ouro Preto a Tiradentes direto!
Dá uma dor de cabeça!
Outra
necessidade urgente é uma maior agilidade e atenção quando a
questão é preservação e uso adequado das áreas verdes. Em prol
de um suposto desenvolvimento do turismo, tudo pode ser derrubado
aqui para a construção de hotéis, sobretudo em tempos de Copa do
Mundo. Mas uma cidade é boa quando o turista tem um parque verde,
uma praça, perto do hotel para descansar depois do almoço, ou para
cruzar de caminho a um ponto de interesse. Disso já é bastante o
que foi dito. Vamos pro final.
Belo
Horizonte devia assumir o papel de parasita e porta de entrada para
outros lugares de vez e investir em facilitar a vida do turista no
transporte dentro da cidade (para que ele se anime a circular um
pouco) e, em parceria com o Estado, no transporte interurbano (para
que ele continue passando por aqui e não busque outras rotas).
Imagina só se você chegasse a BH pelo aeroporto de Confins (o
maiorzinho daqui, mas ridículo se comparado ao de outras capitais
até menos prósperas), pegasse o ônibus chamado
Conexão (A única
solução boa dos últimos anos! Acreditam que em algumas cidades o
aeroporto é longe assim e não oferecem esse tipo de serviço a
preço justo?) até o centro, pudesse se hospedar em um hotel e
passear por BH um ou dois dias, para, depois, tomar um trem que te
levasse até Congonhas do Campo e, de lá, até Ouro Preto, e, de lá,
até Tiradentes! E, depois, voltar de trem até uma estação de
metrô, que te deixaria na rodoviária, de onde você tomaria o
Conexão de volta ao aeroporto! Tudo bem, estou pensando que essa
joça é Europa. Transporte é boa parte das preocupações de um
turista econômico.
Enfim, até que, se comparada com outras cidades latino americanas
turísticas e louvadas entre os brasileiros que viajam para o exterior
(estou pensando em uma específica, aquela, mas não posso dizer,
pois algum amigo de lá poderia ler, sabe?) Belo Horizonte ainda é
bem cuidada, tem boa jardinagem, capricho e tudo. Isso agrada quem já
veio e aqui está, mas não motiva a vir quem ainda está longe.
Se o turista vier e não gostar, pelo menos pode comprar um queijo. O canastra de São Roque de Minas é o melhor. Vende no
Mercado Central de Belo Horizonte.
Abraço,
Cesar
P.S. Belo Horizonte é cidade grande e desorganizada como todas do Brasil. Não espere encontrar hospitalidade mineira aqui. Isso você só encontra nos esconderijos da genileza, em pequenos distritos de pequenas cidades. Dizem que há vestígios de tal presença em lugarejos como Milho Verde, em Diamantina, e Santo Antônio do Leite, em Ouro Preto. É que, na verdade, Belo Horizonte não é tão mineira como já foi. É uma metrópole com trânsito horrível, fumaça de ônibus e gente apressada. Mas tem suas ilhas de tranquilidade, cultura e humanidade.