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segunda-feira, 9 de maio de 2011

A oração como exercício de humildade: breve reflexão com auxílio de uma jovem tehuelche

"Plegaria de la india tehuelche", no Jardín Botánico de Buenos Aires.

Não resta dúvida quanto ao que faz essa moça. Está de joelhos, com as mãos juntas, seu rosto se volta para cima e sua boca entreaberta sugere que balbucia algumas palavras. As palavras não se ouvem, mas seu corpo as indica como sendo uma súplica. Por que ela suplica a Deus? Quais seus motivos? É uma índia dos tehuelches, povo da Patagônia. Talvez sofra como tantos povos oprimidos pelos Estados modernos que se formaram na América. Não lhe faltarão motivos para pedir. Mas o motivo não importa tanto quanto sua presente atitude. Os tehuelches são conhecidos por serem altos. Já foram referidos como "raça de gigantes". Mas essa índia não é altiva. Ela não exibe seu tamanho com orgulho, mas se ajoelha em humildade para fazer sua oração.

É sobre essa atitude que ando refletindo nestes dias: a oração. Estamos sempre em contato com o Eterno por meio de seu Espírito que em nós habita. Ele, por sua vez, se revela como um pai bondoso. Quando lhe dizemos algo em meio a nossas tarefas, ele escuta. Por que então fazer como essa jovem tehuelche? Por que separar alguns minutos para mudar nossa postura e fazer uma oração, uma súplica? Não seriam suficientes esse diálogo permanente que temos com Ele e as orações que fazemos aos domingos na igreja? Esses questionamentos parecem convincentes e podem até desestimular a prática da oração. Mas talvez não tenham sido formulados de forma correta e piedosa. A questão não deveria ser sobre suficiência, mas sobre excelência. O que é excelente como prática de oração para nós cristãos? Nesse caso, a atitude de separar um tempo para orar se mostra essencial. Não porque o bom Deus precise de nossas orações para agir, mas porque nós precisamos de nossas orações para reconhecer o agir de Deus. A oração é um exercício de humildade. (Claro, se o propósito for ruim, a ação também pode converter-se em algo danoso. Refiro-me neste texto à oração que se faz a Deus, não àquela que alguns fazem "nos lugares públicos", para serem vistos. Esta já não é humilde, mas motivada por um vaidoso orgulho de um pretenso fervor religioso.)

Quando separamos uns minutos para a súplica, estamos dizendo a Deus e a nós mesmos que dependemos Dele, que reconhecemos que é Ele a fonte de todo nosso bem. Frequentemente, negligenciamos esse hábito quando tudo está em ordem, justamente por (inconscientemente talvez) julgarmos que somos auto-suficientes. Afinal, a conta bancária está sem problemas, a saúde está boa, a família está alcançando seus resultados... Somos facilmente iludidos por essa aparente estabilidade. Porém, quando algo começa a ir mal, aí sim, nos voltamos para Deus e pedimos. Podemos mudar essa prática. Podemos orar sempre, estando tudo bem ou não. Dessa forma, exercitamos a percepção de nossa dependência e aprendemos a confiar mais no Eterno e menos em nós mesmos.

Bem, resolvi pensar sobre a oração por causa de uma leitura do Pai Nosso que nós (o pastor de minha comunidade, o pastor estagiário que nos auxilia neste ano e eu) fizemos aqui em casa. Uma leitura descontraída, mas atenta,  recompensada por café e rocambole.  Percebemos que ainda há o que se pensar no texto. Portanto, a esta postagem devem seguir outras sobre o assunto. Provavelmente, apresentarei um  mínimo comentário meu sobre o texto do Pai Nosso no Novo Testamento em Grego, algumas observações de Lutero em seus Catecismos, além de alguma breve elocubração minha. Por enquanto, contudo, deixo que você reflita sobre esse aspecto da oração (o exercício de humildade); reflita e pratique.

2 comentários:

  1. Cesar, até que enfim eu deixo algumas palavras aq. Parabens pelo blog e pela brilhante ideia e jeito como vc interrelaciona os textos. Deus abençoe vc sempre e é sempre uma honra receber seus comentários. Sobre a oração Pai Nosso, é um modelo que se fosse aprendido ouviriamos muito menos as coisas que chama de orção hoje em dia.

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  2. Fico muito grato por sua visita, Joelson. Esteja sempre à vontade para voltar.
    Quanto ao Pai Nosso como modelo e a nossa situação atual, concordo plenamente.
    abraço.

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