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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A mensagem de um playboy e a pertinência dos manifestos evangélicos anti-evangélicos (série opiniões avulsas)

 
A coisa tá feia! Virou bagunça geral, ou será que ninguém percebeu? Só eu? Não. Todo mundo que quer ver vê. Li alguns manifestos escritos por evangélicos contra a atual situação das "igrejas evangélicas" no Brasil. Será preciso mesmo isso? Eu achava que não. Até pensava que essas igrejas mais problemáticas nem igrejas de verdade são. Sabe, essas que mais parecem grandes varejistas disputando os mesmos clientes. Mas depois da terça-feira fiquei meio estarrecido. Em uma igreja que ainda leva o nome de Batista (eu não sou, mas respeito muito pela história) não deveria se escutar o que escutei (pela tv, claro!). Talvez seja preciso mesmo que se escrevam esses manifestos... Vou contar o que me convida a repensar a questão.

O playboy Ávido por Veneração começou lendo Gn 1:1. Era um sermão? Achei que sim. Mas a falta de preparação e de conexões lógicas me levaram depois a pensar que se tratava de uma performance artística ou algo mais psicodélico. Lá vai ele. Eu não vou reproduzir todas as profundas lições de moral e vida que ele espremeu dos poucos versos que leu, mandando uma pessoa dizer para a outra e interpretando como ator mexicano com vozes e caras no palco (entre seus ensinamentos figuram coisas como: "Tem que bater nos filhos. Quem manda é o papai, porque a casa é do papai, o carro é do papai, a comida é do papai! Filho não tem que ter opinião. Na casa de meu pai era assim!" - E olha o resultado! - Outro exemplo de ensinamento profundo: "No filme [O curioso caso de Benjamin Button] a melhor parte é o Brad Pitt bonitão" Hum... Ninguém riu da piada. Era piada?). Era de dar medo. Bisonho!

A proposta se encaminhou para a seguinte leitura (devaneio!): A terra era sem forma e Deus disse pra haver luz. Deus não ficou comentando: "Ah, a terra tá feia". Ele Disse: Haja luz! Da mesma forma, você não deve reclamar, mas declarar a vitória, porque Ele quer que sejamos como Ele. A Bíblia diz: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crer não pereça mas tenha a vida de Deus!" (Isso mesmo, ele mudou o versículo!!!!!) Depois percebeu e voltou: "a vida eterna! Mas a vida eterna é a vida de Deus!". É bisonho ou não é?

Foi mal, não gosto desse tipo de crítica, mas esse pessoal apela. Uma falta de cuidado, uma aberração como esta, não deveria acontecer numa igreja que estampa o nome de uma denominação que nasceu no século XVII. É um verdadeiro Pantanozinho envolto por um lodo de vaidades mal cheirosas! E por que as pessoas não se levantam e vão embora? Já ouviu falar em analfabetismo funcional? Pois é. Começo a achar que vale também para a recepção de um discurso falado. As pessoas não estabelecem as conexões, não percebem os vazios, os saltos, as piruetas lógicas que esses pop-pastores fazem! E, além disso, estão tão embevecidos com as celebridades-gospel que vivem naquele habitat aquático que não prestam atenção nos seus discursos, essas coisinhas sem importância. Afinal, o que importa é a tal da bênção, da unção, do mover... (E, nessa onda, eles movem seus intelectos pro quartinho dos fundos, das tralhas sem utilidade) Daí, numa desconexão bem conectada, lembro-me de que, também nesta semana, a presidenta anunciou a criação de quatro novas universidades federais. Coisa boa! O problema é perceber que para a criação de QUATRO novas universidades se gasta o mesmo dinheiro usado para a reforma de UM estádio para a Copa do Mundo de 2014 (seissentos e poucos milhões de reais!). E o povo gosta da Copa, porque o povo gosta de circo, não de livro.

Mas voltemos ao circo de que falávamos. A plateia não atenta para o discurso, mas entende o que o Artista Venerado propõe no fim de sua apresentação: "Você vai dizer que vai ter dinheiro! Você vai trazer seus dízimos e ofertas sem reclamar da situação financeira, mas declarando que vai dar tudo certo! Vai declarar e eu creio que vai vencer!" Como que se chama isso mesmo na linguagem policial?

Pois é, por isso, devo publicar alguns (alguns trechos?) desses manifestos que ando encontrando por aí, mesmo sem concordar com nenhum deles na íntegra, só para pensar uma possível saída para o dilema que vivem algumas igrejas chamadas "evangélicas" (o termo, no Brasil, se refere a tudo que é ajuntamento de cristãos que não esteja relacionado institucionalmente à Igreja Católica Apostólica Romana ou às igrejas orientais). É claro que podem aparecer aqueles que dizem: "Você deveria pregar o Evangelho em vez de criticar essa igreja que é uma bênção!" A esses eu adianto: Desmascarar aqueles que pregam um falso evangelho pode ser muito útil para ajudar aqueles que pregam o verdadeiro. (Não que eu tenha pretensão de desmascarar ninguém. Até porque são muitas as máscaras e as artimanhas.)

Deus nos livre de afundar nesse charco de lodo! E, se alguém aí gosta do Avultado Varão de que falo, sinto muito. Não quis falar mal de uma pessoa, mas de um discurso medonho, bizarro e perigoso, que procede ou da inocência vacilante e desinformada, ou da malícia astuta, característica dos mercadores da fé.

Cesar

P.S.: A lagoa continua suja. Dizem que vão melhorá-la, mas não tem como. Tem esgoto demais. Tô falando da Pampulha, viu?
P.S.': Apesar de aparecerem entre aspas, as falas do rapaz foram ditadas pela minha memória. O conteúdo era esse mesmo, mas alguns termos podem ter sido trocados. Agora, a parte do versículo está letra por letra como ele disse!
P.S.'': Essa bagunça não deve nos desanimar. A beleza do simples Evangelho não deve ser ofuscada por essa sujeira que nos ameaça. Quando tudo parecer obscurecido por núvens de avareza e contenda, voltemos nossa face a Cristo e a seu convite cheio de Graça. Despindo-nos de toda essa vaidade e mediocre manipulação das massas, sigamos em passos constantes os conselhos do grande Mestre, o amigo que não vai nos abandonar jamais.

6 comentários:

  1. Quando Morris Cerulo veio ( e aqui está novamente ) de longe para saquear a dispensa do nosso povo ignorante e sofrido, perdi algumas horas de sono. Quando vi esse playboy que você citou dizendo, ao rebater comentários sobre a sua abastada situação financeira, que crente deveria aprender que cada um deve cuidar da própria vida ( exatamente como Jesus pregou, certo? ), perdi outras horas de paz.

    Por algum tempo andei meditando e perguntando ao Senhor se este sentimento que me inquietava era bom ou não. Estava com um pouco de medo de estar gerando, sem motivo, rancor no meu coração.

    Depois de algum tempo, encontrei a resposta na segunda carta de Pedro:

    “E livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis (Porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, vendo e ouvindo sobre as suas obras injustas)” 2Pe 2:7-8

    E assim parei de me condenar por afligir minha alma (não tão justa) com as obras injustas destes homens. É sinal de que ainda não me conformei com este mundo. E também passei a ver com outros olhos os manifestos daqueles que tentam, dentro de suas limitações e imperfeições, zelar pela justiça e retidão do Senhor.

    Não podemos, de forma alguma, nos conformar com isso. É natural que nossa alma se aflija. E se temos algum instrumento para manifestar a aflição da nossa alma, porque não fazê-lo?

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  2. Entendo, Marcos. Só não perca mais horas de sono, porque se for deixar de dormir uma hora por cada treta que esse povo apronta, logo você vai parar de dormir de vez.

    Nossa alma não tão justa só encontra sua justiça pela fé em Cristo, por meio da Graça de Deus. Isso é importante, porque nos lembra que somos, tanto como esses canalhas mercadores da fé, carentes do perdão e do acolhimento do Eterno.

    O que nos chama a atenção e aflige de veras nosso interior é ver a injustiça desenfreada com que manuseiam o livro sagrado, chegando ao ponto, como no exemplo que dei, de igualar o criado ao não-criado Criador, atribuindo a nós algo que cabe somente a Deus, em uma heresia antiga e nítida. Não me inquieto se sei que o moço é um mal educado. Isso é falha humana normal. O que incomoda é, como no exemplo que você citou, alguém usar do lugar de ensino que lhe cabe, para ensinar asneiras tiradas da própria mente vacilante, sem se preocupar um mínimo em se ater à Verdade.

    Aqui está o meu receio com nossas críticas: Os que tentam "zelar pela justiça e retidão do Senhor" muitas vezes passam do ponto e se apropriam de uma função que não lhes cabe, porque não têm justiça e retidão em si mesmos para tanto. Nossa vaidade nos conduz a isso, a achar que detemos a verdade e a justiça e que nossa leitura é A correta. Portanto, é preciso sempre lembrar de nossa própria pecaminosidade e limitação, não dizendo que "temos a verdade" mas que queremos que a Escritura seja tratada com mais respeito.

    Um exemplo: Não concordo com os Católicos Romanos quanto à Transubstanciação dos elementos na Eucaristia. Não concordo, também, com os Calvinistas quanto a redução da Ceia a um mero símbolo. Creio na Presença Real do Corpo e Sangue de Cristo como Mistério da Fé. Mas não me aborreço com católicos e calvinistas quanto a isso, porque acho que ambas as conclusões, mesmo que divergentes da minha opção, procuram respeitar o texto sagrado, não o desprezam ou torcem descabidamente. Então, não entro em briga quanto a isso. O que merece afligir a alma é a falta de respeito total ao Livro que estamos presenciando. E o pior: esses da Lagoa no diminutivo nem definem a linha teológica da igreja. Tratam o texto assim hoje. Mas depois são super literais para impor leis moralizantes aos membros.

    Enfim, só tentei explicar melhor minhas inquietações.

    Abraço,

    Cesar

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  3. Eu até sei lidar bem com diferenças de opiniões. Não me sinto incomodado por diferentes interpretações da Palavra, principalmente em relação às questões que não dizem respeito à salvação. O importante é que Cristo seja o centro, e que somente através Dele venha a redenção.

    A falta de habilidade em manusear a palavra também não é o alvo central das minhas críticas. É um problema generalizado, gerado pelo nosso sistema educacional deficiente, aliado à falta do ensino da palavra em nossas igrejas. Os cultos de Escola Bíblica Dominical foram substituídos por cultos da vitória, correntes da prosperidade e passarelas de sal grosso. O que temos agora é uma geração de pregadores despreparados e uma massa de espectadores passivos incapazes de tomar uma postura crítica em relação àquilo que é pregado.

    Parte destes cristãos, mesmo despreparados, erram de forma ingênua. Apesar de todas as aberrações teológicas, no coração de muitos encontramos uma vontade genuína de servir a Cristo.

    O que me deixa indignado não é a linha teológica ou a interpretação de um ou de outro texto. É o uso da Palavra de forma criminosa, para extorquir dinheiro do povo. E para isso muitos se valem até de pregações bem consistentes. O que me tira o sono é o uso intencional do Evangelho para saciar a sede de fama e dinheiro.

    É uma questão muito mais ética do que teológica. É falta de vergonha na cara mesmo, e é isso que aflige a minha alma.

    Ah, e se vc ainda não viu, dê uma olhada no vídeo dos 911 reais do Morris Cerullo.

    Abraço,

    Marcos

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  4. Marcos,

    É de veras de novo. O problema é que essa falta de vergonha na cara está em todas as partes da sociedade brasileira. E, infelizmente, poucos são os cristãos que se livram dessa mazela. (Um péssimo testemunho, contrário à veracidade da proposta cristã.)
    Ah, se um dia você não quiser ou não puder dormir, e precisar então afligir-se para ficar acordado mais tempo, visite o blog do Joelson: www.gracaplena.blogspot.com . Tem uma série de postagens chamada "Bizarrices do Mundo Gospel". É de dar arrepios!

    Abraço,
    Cesar

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  5. Amigos, o que fazer frente a esta realidade. Fico aqui pensando em Lutero e seus panfletinhos. Hoje estamos numa era que nos permite chegar onde Lutero nunca imaginou. Lógico, não para defender Deus! Mas, para fazer o nosso povo refletir e a partir da palavra o Espírito Santo agir nestes corações. Realmente temos que fazer alguma coisa.

    O irmão em Cristo.
    Celso.

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  6. Celso,
    Que Deus nos ilumine para que, tal como a lua reflete o sol, possamos levar um pouco dessa Luz a essa gente que vive em densas trevas, mais obscuras até que aquelas da Idade Média, nos tempos do reformador germânico.
    Abraço,
    Cesar

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