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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Relendo Jonas: o mais importante não é o peixão



Jonas é daquele tipo de história que a gente lê mesmo antes de aprender a ler. E algumas pessoas continuam lendo Jonas várias vezes ao longo da vida. Algumas, porque se esquecem que já leram. Outras, porque acham que não entenderam. Outras ainda, porque leem fragmentos da narrativa repetidas vezes na igreja. 

Eu conheci o Jonas por imagens e contação de história na infância. Mas só atentava para a história do peixe. Baita peixe! Quando aprendi a ler e fui conferir a história na Bíblia, quanta decepção! Jonas não era o bonzinho da história! Tudo bem, depois ele dá uma melhorada, vai cumprir sua missão. Espera!!! Não!!! Por que esse capítulo 4 está aqui? Ele tinha ficado bonzinho e, agora, volta a ser esse otário? Não gostava do capitulo 4. Queria tirá-lo de lá! Se lá pelos sete anos de idade eu conhecesse o método histórico-crítico eu ia acabar aderindo só pra arrumar uma desculpa para aniquilar com Jonas 4. Tudo bem. Não rasguei minha Bíblia. Depois, reli Jonas algumas vezes na adolescência. A questão que me incomodava era a historicidade ou não do texto, mas só por causa do peixão. Isso passou. Esqueci de Jonas por algum tempo.

Agora, como precisei escrever um ensaio sobre a conversão ao judaísmo na Antiguidade, esbarrei com ele de novo. Lá fui eu reler Jonas. E como as coisas mudaram! O primeiro impacto foi perceber que o capítulo 4 continua incomodando. Mas já não é porque revela a idiotice daquele que deveria ser o herói. Com isso já me acostumei. O que incomoda é que o capítulo 4 escancara o fato de que eu (como muitos de nós, imagino) tenho muito de Jonas em mim. E não é por causa da tendência à desobediência! Não! Essa nem é a questão principal do livro! Enganaram-me na infância! É porque Jonas, como eu, não entende a Misericórdia do Eterno. É porque Ele, como eu, quer punição, não perdão, tanto para os outros quanto para si mesmo (lembrem-se dele no barco). O capítulo 4 revela lá no fundo que ficamos tão incomodados e insatisfeitos quanto Jonas (o que, por sua vez, se repetirá no Novo Testamento com o irmão bonzinho, que se inquieta ao ver que seu irmão rebelde, o "filho pródigo", é acolhido com festa pelo pai). Mas a lição do Pai é clara e incisiva. E é só o Espírito Santo que nos pode fazer menos Jonas, quero dizer, menos idiotas.

Pois bem, além disso, só vou enumerar algumas coisas que mudaram na minha leitura de agora:

- O peixão não é punição e Jonas percebe isso, por isso sua oração é de agradecimento na barriga do bicho. O peixão é um livramento e, mais especificamente, um meio de transporte coercivo enviado por Deus para redirecionar o fujão.

- Jonas é um profeta de má vontade mesmo. Ele não se esforça para cumprir a ordem de modo cabal, nem mesmo na segunda vez. Em momento algum ele se torna o bom profeta.

- A conversão dos gentios na narrativa (tanto dos marinheiros quanto dos ninivitas) não representa uma adesão ao judaísmo. Isso não acontece. Se nos mantivermos nos limites do texto, vamos perceber que eles não deixam de ser politeístas. Sua conversão é meramente ética, não religiosa.

- Mas os gentios são apresentados, em contraste marcante para com o profeta israelita, como piedosos e compreensivos.

É mais ou menos isso. 

Abraço,

Cesar

P.S.: A labuta se avoluma, por isso, para manter esse troço que eu chamo de blog atualizado (e preciso fazê-lo, afinal, tem meia dúzia de insanos que costumam ler essas coisas que chamo de postagens), só mesmo aproveitando alguma coisa do trabalho. Entendam. Agora, estou relendo Rute, então, logo colocarei algo sobre ela. Mas tenho que falar de panquecas e comida caseira antes... Saboroso e custoso esse tal de saber!

3 comentários:

  1. Querido Cesar, que Deus nos livre do Joanas que existe dentro de cada um de nós!Ou seria esse Jonas uma espécie de "espinho na carne"!? Que machuca mas se faz é necessário? Ou tipo aquele tal merthiolate que minha mãe colocava sobre os muitos cortes e ralados de tombos da infância,e,quando eu reclamava ela afirmava enfaticamente: "O que arde cura"!Sendo assim talvez na verdade devêssemos dizer: A tua graça me basta!
    PS.Uma curiosidade, de onde o irmão conhece o "Fruto Sagrado"?
    Paz!

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  2. Meu irmão,tira esse negócio de confirmação de palavra na hora de postar comentário, não serve de nada e dificulta a vida de que esta comentando.
    Estou esperando a sessão de receita dos pastores.Paz!

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  3. "A tua graça me basta!" Essa frase diz tudo sobre a nossa incapacidade de alcançar a perfeição nesta vida. Que bom poder lembrar da realidade do amor e da misericórdia de Deus, porque se dependesse de nós... Meu amigo, o negócio ia ficar brabo!

    Pode deixar que vou tirar o negócio da confirmação.
    Do Fruto eu respondo no seu blog.
    A sessão "Pastor também cozinha" pode começar agora! Vou montar uma entrevista com perguntas sobre a receita para mandar pra você. Manda um e-mail pra mim pra eu saber o seu. O meu é profecesarmr@yahoo.com.br

    Abração!

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