Quando vemos um habilidoso praticante de wushu (1) executar uma forma (2) com espada, podemos não conhecer a técnica em detalhes, mas, ainda assim, algo fica claro: a espada não representa ameaça para ele mesmo. Ele a movimenta com tranquilidade, como se não se tratasse de um elemento tão cortante. Isso acontece porque, segundo os ensinamentos dessa arte milenar, a espada não deve ser para o guerreiro algo separado, exótico, mas sim a extensão de seu próprio corpo. Ele pode, então, passá-la a centímetro de sua própria orelha sem olhá-la, como nós fazemos com nossa própria mão. A espada já é parte dele.
Paulo de Tarso certamente não conhecia wushu, pois suas viagens se restringiram ao Mediterrâneo. Contudo, permito-me uma relação previsível nesta altura do texto: "a espada do espírito, a qual é a palavra de Deus" (Ef 6:17) deve ser também uma extensão de nosso próprio espírito, e não mais um elemento estrangeiro em nós. Uma consequência da presença do Espírito Santo em nós é que o Autor da Palavra a transcreve no mais íntimo de nosso ser. De modo que já não é texto de um livro, mas letras que se tecem em nós, tão intimamente ligadas a nosso ser quanto nossos próprios tecidos musculares. E tomo como testemunho as palavras do Messias: "Aquele que crê em mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva fluirão de seu ventre" (Jo 7:38) (3), lembrando também de Jeremias 31:33-34.
A espada do espírito - e escrevo "espírito" com minúscula, julgando poder tratar-se não necessariamente do Espírito Santo, mas do nosso próprio espírito, cujo instrumento para embate com outros espíritos (isto é, outras pessoas) e o mundo exterior em geral é justamente a linguagem (4)- não deve ferir o próprio espírito ou o próprio corpo. A Palavra de Deus não deve ser usada de modo mesquinho, com vistas a ferir outro membro do mesmo Corpo (de Cristo). Pelo contrário, como elemento próprio, ajustado e até íntimo, ela deve ser usada com parcimônia, precisão e amor, pois é de veras cortante.
O guerreiro chinês se entende com sua espada e a entende como continuação de seu próprio braço. Ele se responsabiliza pelo que ela corta ou deixa de cortar. Não a culpará jamais, dizendo: "É que ela escorregou!" Cada cristão precisa, de modo semelhante, reconhecer a responsabilidade que há no fato de ter tão excelente espada como arma de seu próprio espírito e não usá-la de modo irresponsável ou negligente.
Que o Deus da Paz nos guie e ensine a identificar cada um dos verdadeiros inimigos, mesmo que invisíveis, como se subtende em uma forma de wushu, pois frequentemente temos escolhido de modo equivocado os oponentes, e acabamos cortando nossa própria perna, decepando nosso dedo ou dando murro em ponta de Palavra.
Abraços pacíficos,
Cesar
Notas:
Paulo de Tarso certamente não conhecia wushu, pois suas viagens se restringiram ao Mediterrâneo. Contudo, permito-me uma relação previsível nesta altura do texto: "a espada do espírito, a qual é a palavra de Deus" (Ef 6:17) deve ser também uma extensão de nosso próprio espírito, e não mais um elemento estrangeiro em nós. Uma consequência da presença do Espírito Santo em nós é que o Autor da Palavra a transcreve no mais íntimo de nosso ser. De modo que já não é texto de um livro, mas letras que se tecem em nós, tão intimamente ligadas a nosso ser quanto nossos próprios tecidos musculares. E tomo como testemunho as palavras do Messias: "Aquele que crê em mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva fluirão de seu ventre" (Jo 7:38) (3), lembrando também de Jeremias 31:33-34.
A espada do espírito - e escrevo "espírito" com minúscula, julgando poder tratar-se não necessariamente do Espírito Santo, mas do nosso próprio espírito, cujo instrumento para embate com outros espíritos (isto é, outras pessoas) e o mundo exterior em geral é justamente a linguagem (4)- não deve ferir o próprio espírito ou o próprio corpo. A Palavra de Deus não deve ser usada de modo mesquinho, com vistas a ferir outro membro do mesmo Corpo (de Cristo). Pelo contrário, como elemento próprio, ajustado e até íntimo, ela deve ser usada com parcimônia, precisão e amor, pois é de veras cortante.
O guerreiro chinês se entende com sua espada e a entende como continuação de seu próprio braço. Ele se responsabiliza pelo que ela corta ou deixa de cortar. Não a culpará jamais, dizendo: "É que ela escorregou!" Cada cristão precisa, de modo semelhante, reconhecer a responsabilidade que há no fato de ter tão excelente espada como arma de seu próprio espírito e não usá-la de modo irresponsável ou negligente.
Que o Deus da Paz nos guie e ensine a identificar cada um dos verdadeiros inimigos, mesmo que invisíveis, como se subtende em uma forma de wushu, pois frequentemente temos escolhido de modo equivocado os oponentes, e acabamos cortando nossa própria perna, decepando nosso dedo ou dando murro em ponta de Palavra.
Abraços pacíficos,
Cesar
Notas:
(1) Wushu é o nome chinês para a arte marcial mais conhecida no ocidente como Kung-Fu. Na verdade, pode-se dizer que há sob este nome uma multiplicidade de artes marciais.
(2) Uma "forma" é uma série de movimentos decorados que simulam uma luta contra um ou mais adversários invisíveis. Sua função é primordialmente didática.
(3) Noutra ocasião, voltarei à citação do Evangelho para discorrer a respeito.
(4) Geralmente, entende-se que, neste trecho de Efésios, os genitivos devem ser lidos como apositivos, isto é, eles esclareceriam o valor metafórico de cada elemento da "armadura de Deus". Neste sentido, o "capacete" é metaforicamente a "salvação", o "escudo" é metaforicamente a "fé" etc. Na oração que cito, contudo, é difícil entender que a "espada" seja metaforicamente o "Espírito Santo", ou mesmo o "espírito do ser humano". Pelo menos aqui, a relação parece ser de posse, tratando-se de um genitivo possessivo. A "espada" é mesmo "do espírito". (Por isso, inclusive, se faz necessário esclarecer qual é o sentido metafórico de "espada" com uma oração que se acrescenta: "que é a palavra de Deus".) E se a "espada" para um corpo é uma lâmina de aço, para o espírito é a palavra. E torna-se importante pensar que palavra é essa. Não me parece que a referência aqui seja ao cânone do Antigo Testamento. Rêma theoû não é uma expressão consistentemente usada para isso. O termo rêma é mais comunmente usado para referir-se à palavra falada. Portanto, eu preferiria traduzir a expressão rêma theoû do trecho aqui estudado por algo como "mensagem de Deus", entendendo que a espada que nosso espírito tem na presente peleja é justamente a proclamação da mensagem do Deus Eterno. É, como estive argumentando, a Palavra de Deus que se inscreve em nosso interior pelo Espírito Santo e se manifesta no exterior como espada do nosso espírito, não a Bíblia como livro concreto. Isso tira a importância da Bíblia? De forma alguma. Pois a Palavra em nós inscrita deve estar em conformidade com a Palavra escrita, sendo esta ainda um padrão para julgamento daquela (quero dizer, para discernimento, uma vez que podemos confundir nossos pensamentos). Poderia ter tratado destas questões no corpo do texto, mas preferi restringi-las a este espaço discreto. Aqui, em meio às notas, elas serão encontradas somente por leitores mais maduros, pois os imaturos não frequentam as letras miúdas.
P.S. Fez algum sentido?
P.S. Fez algum sentido?
Rss...Fez sentido sim!!
ResponderExcluirQue Deus possa abrir os nosso olhos espirituais!!
parabéns pelo blog!! Muito bom!!
Opa! Obrigado por responder à pergunta! E bem vindo a esta humilde cantina.
ResponderExcluirVisitei o "De papo com Deus" rapidamente. Gostei do que vi. Voltarei mais vezes.
Abraço,
Cesar
Pois é, eu li a nota, se não estiver de conformidade com a espada (palavra) Bíblia, você só falará de si mesmo dos seus pensamentos e do seu "espirito". E aí poderá sim ferir e perderá o referencial da verdade. A espada é a palavra de Deus e é cortante, penetrante. Nenhuma criatura lhe é invisível. Por Ela tudo é nu e descoberto diante daquele a quem havemos de prestar contas."
ResponderExcluirPaz!
É desse jeito...samurais de Jeová! rsrs.
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