Novidade

quinta-feira, 12 de abril de 2012

As renúncias e os choramingos de pastor (série opiniões avulsas)


Todo mundo renuncia alguma coisa quando decide fazer outra. Claro! Se eu decidi ser o que sou e não investi em um de meus tantos sonhos de criança e adolescente (ser engenheiro florestal, ambientalista, oceanógrafo, professor de literatura brasileira, piloto de rally, ninja etc), isso se deve a alguma razão. As condicionantes das escolhas podem ser muitas. Mas a escolha está feita (até que eu queira de fato mudá-la, se houver tempo). Não posso acordar e reclamar que se eu fosse piloto de rally não teria que ficar enfurnado na frente do computador pesquisando meia hora sobre cultivo de azeitonas para traduzir uma pequena frase. Não posso olhar para meus parentes e ficar resmungando que se tivessem se mudado para o litoral eu poderia trabalhar com cavalos marinhos, tartarugas, baleias ou outras coisas mais emocionantes! Não posso, enfim, reclamar, sobretudo, do meu trabalho atual e culpá-lo por não ter escolhido as opções rejeitadas. Isso seria, no mínimo, um saco!

Mas parece que é costume de muitos pastores e líderes do meio gospel fazer algo semelhante. Não é por mal, mas tenho que comentar. Hoje mesmo, vi um pastor na tv dizendo que serve numa igreja aqui de BH com muito amor e que renuncia muitas coisas para estar com eles. Pra que cargas d'água ele tinha que falar que renuncia muitas coisas? 

Pois bem, é só um exemplo de um discurso que se multiplica por bocas e mais bocas. Até os ricassos pastores pop das megaigrejas fazem isso! Sim, e com lágrimas nos olhos dizem que entregaram suas vidas ao Senhor. Sim, ao Senhor e ao salário de vários milhares de reais que embolsam todos os meses, não é? E fazem isso em família até! Imaginem como rende! Bom, já mencionei o nepotismo eclesiástico e não é assunto para hoje.

O assunto atual é simples, é um pedido: Caros líderes, o choramingo não tem sentido algum! Parem com isso! É feio. É cansativo. Não leva a nada.

Eles até acham, talvez, que isso nos fará valorizar o trabalho que desempenham. Talvez, pensem que isso nos fará pagar um salário melhor com medo de que se arrependam de sua opção (isso quando não são eles mesmos que definem seus salários, como em algumas denominações!). Estão enganados. Todos fazemos escolhas. Todos renunciamos coisas. Todos! E se eles têm essa vocação e responderam positivamente a ela, não devem resmungar como se meio arrependidos, ou como se olhassem para trás invejando o que nem sequer se sabe se conseguiriam! Sim, alguns chegam a dizer: "Se eu não fosse pastor, estaria ganhando tanto no trabalho que eu teria!" E você sabe se teria trabalho? Qual trabalho? E, o mais importante, se você É pastor, se você se decidiu, por que ficar namorando a virtualidade de uma opção não tomada? Você está no presente real integralmente, ou seu coração está dividido entre o real e o virtual desejado secretamente?

Acho que uma boa resposta para esses choramingos seria: "Então desista do chamado, se está incomodado. Vá embora fazer outra coisa!" É o que eu gostaria de escutar se ficasse choramingando minha escolha com alguém. Caramba! Não vejo esse comportamento sendo louvado na narrativa de nenhum personagem Bíblico. Por que será? Certamente, porque aquele que faz a escolha pelo MELHOR não se sente atraído por outra coisa. E se eu me sinto atraído por outra coisa, como uma situação financeira virtualmente melhor, a ponto de ficar comentando sobre ela, é porque eu não considero o MELHOR tão MELHOR! Ou seja, ao tentar valorizar sua escolha e seu trabalho, louvando a própria renúncia, os pastores dão mostras de sua incerteza e até de uma possível incredulidade. Se eu escolhi o MELHOR (e o MELHOR, na minha cabeça, é justamente cumprir a vocação que me foi dada, seja ela qual for), eu tenho que me alegrar profundamente nisso e tê-lo como privilégio, deixando o que fica para trás - ou o que poderia ter sido - como um nada que só merece esquecimento, afinal, eu estou me envolvendo com o MELHOR! Quem saboreia uma pizza não fica de olho no pão velho, nem fica alardeando que abriu mão dele para ficar com a pizza!

E quantos o fazem! São muitos, quase todos! Por isso, se você, leitor, é pastor, não me leve a mal. Sei que você pode ter feito isso várias vezes. Em vez de se justificar, pense, reflita no conselho e, se julgar por bem, mude de comportamento. Inclusive porque a autobajulação não é virtude nem aqui nem lá na China (Isso é retórica. Na verdade não sei como isso funciona na China).

Bom, o desabafo de hoje é esse. Ah, sim, falta dizer que, enquanto pensava sobre isso, rememorei conversas com todos os pastores que conheci até hoje (batistas, luteranos, pentecostais, presbiterianos, metodistas e lá vai mais longe...). Para minha surpresa, o único de cuja boca não escutei esse tipo de choramingo é o meu atual pastor (há uns três anos é meu pastor). Fiquei feliz, pois acho que é prova de maturidade. Fico triste, contudo, quando percebo que todos os outros já choramingaram assim. Por que será que o fizeram? Alguns parecem tão comprometidos! Talvez o fazem por já ser costume reproduzido irrefletidamente. Ou será que ensinam isso nos seminários?

O caríssimo irmão Alberto, que muito bem escreve sobre liderança cristã, não abordou o choramingo no seu livro (acho que não). Alberto, fica, pois, a sugestão: falar sobre o líder choramingão!

Abraço,

Cesar,
sem choramingos, porque temos muito a fazer e pouco tempo para murmurar!


Um comentário:

  1. resposta de mineiro para mineiro: O costume do cachimbo deixa a boca torta.
    tradução para não mineiros: quem não chora não mama.

    ResponderExcluir