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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Peixe à moda do Nazareno

Por acúmulo de tarefas e necessidade de concluir uma empreitada para poder dar início a outra, tirei férias do blog. Depois de 10 meses de produção e oferta de 'comida caseira', permanecerei aproximadamente dois meses postando textos de outras pessoas ou repostanto textos antigos.

 
Um peixe, no zoológico de Buenos Aires

Alguns detalhes da vida de Jesus costumam passar despercebidos, sobretudo suas ações mais simples, comuns, meramente humanas. Muitos se esquecem que, durante muitos anos, ele viveu como um simples carpinteiro, que se envolvia no cotidiano de sua pequena cidade. Uma atitude tão singela e, ao mesmo tempo, tão altruísta como a que ele tomou às margens do Tiberíades depois de ressuscitado, então, não será frequentemente mencionada em sermões dominicais. Mas o que foi que ele fez? Ele cozinhou para os discípulos. Isso mesmo! Não precisa fazer cara de espanto. Veja só:

"Disse Pedro a eles: 'Vou pescar!' E disseram a ele: 'Nós também vamos com você.' Foram e subiram no barco e, naquela noite, não pegaram nada. E quando era já de manhãzinha, Jesus se colocou na praia. Contudo, os discípulos não sabiam que era Jesus.
...
Então, quando desembarcaram em terra, viram um braseiro armado, peixe colocado sobre ele, e pão. Jesus disse a eles: 'Tragam dos peixes que vocês pescaram agora.'
...
Jesus disse a eles: 'Venham! Comam!'"
João 21:3-4;9-10;12

Não sei que receita o Mestre seguiu, mas imagino que o peixe assado tenha ficado muito saboroso. Além do mais, deve ter sido bem oportuno para os que chegaram à praia e encontraram comida pronta. Simples demais para o Salvador que há pouco havia morrido pela humanidade... É verdade. Mas ele se fez pequeno para servir, lembra? E com essa simplicidade ele mostra uma maneira de amar por ação, por um gesto, e não somente por palavras.

Convido você a fazer algo semelhante ao que Jesus fez! Um churrasco de peixe? Não necessariamente. Tentei uma vez, mas ficou ressecado. Acho que faltou embrulhar com papel alumínio ou folha de bananeira. Façamos o seguinte: vamos considerar que o Peixe à moda do Nazareno pode ser qualquer prato (com peixe, se possível) preparado com intenção semelhante. Então, primeiramente, escolha os discípulos dele que você vai surpreender. Pode ser sua esposa, seu marido, filhos, amigos da igreja, do trabalho etc... Depois, escolha uma receita prática que tenha peixe. Vou sugerir a mais simples das receitas, para ser acessível até aos mais inexperientes nas coisas da cozinha. Anote aí:

Tagliarini com molho de Atum à moda do Saboroso Saber

1 Lata de Atum Sólido ao natural
1 Cebola pequena
1 Lata de extrato de tomate (se for experiente, substitua parte dessa lata por tomates italianos maduros sem pele e sementes)
10 Azeitonas (Azapa) picadas
1 tantinho generoso de parmesão ralado (Não compre os pacotinhos, pois não são queijo puro. Compre um pedaço e rale na mão mesmo. Se for muito inexperiente ou preguiçoso, procure os potinhos com parmesão recentemente ralado nos bons supermercados)
Azeite Extra-Virgem
Molho de pimenta
8 folhas de manjericão fresco
Orégano seco
250 gramas de Tagliarini (massa tipo caseira, por favor!)

Cozinhe a massa com o tempo ensinado pelo fabricante na embalagem (as pessoas costumam cozinhar demais).
Enquanto isso, refogue rapidamente a cebola picada no azeite (se for usar tomate, acrescente-o em seguida e espere até começar a se desmanchar, mexendo devagar). Logo, coloque toda a lata de atum. Mexa um pouco. Pegue duas ou três colheres da água que está fervendo com o macarrão e ponha no molho. Mexa mais. Acescente as azeitonas e o extrato de tomate. Mexa enquanto volta a ferver. Acrescente o manjericão fresco. Desligue o fogo e tampe. Coloque a massa no prato (isso mesmo, você vai servir o/a convidado/a) e acrescente o molho por cima, sem mexer tudo. Despeje um tantinho do parmesão. Acrescente uma pitada de orégano seco esfregando-o com as pontas dos dedos (para ativar o aroma). Regue com um fio do azeite! Pronto! Se quiser sirva junto uma salada de folhas (sugiro rúcula ou agrião, por terem sabor mais marcante).

Faça algo como Jesus: Prepare essa massa, convide alguém, compartilhe! Depois, me conte como foi!

Um abraço!
C.

P.S.: Essa receita de macarrão é de minha autoria e tem o objetivo de ser prática ao extremo. Se você quiser mesmo investir mais tempo em um peixe assado, aqui vai uma receita interessante: Salmão na Brasa (Cozinha Travessa). Já fiz bem parecido no forno e ficou muito gostoso!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A igreja deve cumprir as leis da nação em que está? - Resposta de Lutero

O que segue é um trecho de um sermão de Martinho Lutero a respeito de Mateus 22:15-22. Está em inglês, pois assim o achei, e falta-me tempo para traduzir.


Thus one must also bear the authority of the ruler. If he abuses it, I am not therefore to bear him a grudge, nor take revenge of and punish him with my hands. One must obey him solely for God's sake, for he stands in God's stead. Let them impose taxes as intolerable as they may: one must obey them and, suffer everything patiently, for God's sake. Whether they do right or not, that will be taken care of in due time. If therefore your possessions, aye, your life and whatsoever you have, be taken from you by those in power, then you are to say: I give it to you willingly, I acknowledge you as my masters, gladly will I be obedient to you. Whether you use the power given to you by God well or ill, that is your affair.
But what if they would take the Gospel from us or forbid us to preach it? Then you are to say: The Gospel and Word of God. I will not give up to you. This is not within your power, for your rule is a temporal rule, over worldly matters; but the Gospel is a spiritual, heavenly treasure, and therefore your authority does not extend over the Gospel and God's Word. We recognize the emperor as a master of temporal affairs, not of God's Word; this we shall not suffer to be torn from us, for it is the power of God, Rom. 1, 16, against which not even the gates of hell shall prevail.
Therefore, the Lord beautifully summarizes these two things, and in one saying distinguishes them from each other: "Render unto Caesar the things that are Caesar's, and unto God the things that are God's."

Martinho Lutero

Contradições - Quando achamos que uma coisa é uma coisa, mas é outra coisa

Li com atraso a reportagem que posto abaixo. Fala de uma denúncia que revelou que a McDonald's usa carne ruim, tatada com amônia, nos hamburgers que serve. A imagem foi inevitável: um monte de pais achando que fazem vantagem ao fornecerem dinheiro aos filhos adolescentes que se orgunlham de dizer: "Meu pai me dá dinheiro para comer lá. Eu amo McDonald's!". E esses privilegiados se enchem de porcaria, enquanto os pobres comem coisa melhor em suas casas, tristes por não terem acesso à famosa lanchonete.

E se metaforicamente também acontecer algo assim? E se nos orgulharmos do que é ruim? E se formos achados tão babacas quanto esses pais da imaginação que descrevi? E se...? O certo é que o caminho é ter calma para voltar e olhar, voltar e ler o que dá direção. Difícil? Sim, da simplicidade do movimento de Jesus, construímos redes complexas que são por demais trabalhosas. As negociações de ideias se fazem duras, árduas. E a simplicidade parece já não ser opção. Criamos tantas necessidades que eram estranhas para a sábia mente de Cristo. Ele só precisava de sua voz e de um lugar para se assentar e falar. E alí, entre pedras secas e poeira, se instituia a Aula, o momento em que a palavra produzia seu efeito, saindo da divindade e chegando às criaturas. E nós nos prendemos às novas dificuldades. Estamos sem saída? Será? Sei lá.

Aí a reportagem:


McDonald's usa amônia para fazer hambúrguer com sobra de carne


A rede de fast food McDonald's foi alvo da denúncia de que estaria utilizando hidróxido de amônia para converter sobras de carne em um enchimento para os hambúrgueres. A informação é do jornal britânico "Daily Mail".

A polêmica ganhou as manchetes dos pricipais jornais americanos depois que o chef Jamie Oliver veio a público denunciar a prática. "Basicamente, nós estamos levando um produto que seria vendido na forma mais barata para cães. Após este processo, podemos dar aos seres humanos", disse o chef durante seu programa de televisão "Jamie Oliver’s Food Revolution".


Segundo o jornal britânico, o microbiologista do Departamento Americano de Agricultura, Geral Zirnstein, concordou com o chef Jamie Oliver de que o hidróxido de amônia deve ser banido do processamento das carnes do McDonald's. Após a denúncia, a rede anunciou que vai alterar a receita do hambúrguer no país, mas não admitiu que a medida tenha sido tomada em função das denúncias.


Após a decisão do McDonald's, o chef de cozinha comemorou. "Por que qualquer ser humano sensato  colocaria amônia na boca de seus filhos? O público americano precisa urgentemente entender o que sua indústria de alimentos está fazendo", disse Jamie Oliver.


Segundo o diretor do Sistema da Qualidade do McDonald's nos Estados Unidos, Todd Bacon, a empresa cumpre todos os requisitos de segurança alimentar. "No McDonald's, a segurança de alimentos tem sido e continuará a ser uma prioridade", garantiu.


De acordo com o "Daily Mail", o processamento da carne de hambúrguer nos Estados Unidos é realizado pela empresa Beef Products Inc (BIP) e ninguém foi encontrado para comentar o assunto.

Vi aqui: http://www.hojeemdia.com.br/noticias/mcdonald-s-usa-amonia-para-fazer-hamburguer-com-sobra-de-carne-1.398614


P.S. Credo! Tô escrevendo igual um bêbado. Parece nem fazer sentido. Mas faz, cá na cuca faz. Desculpem-me por deixar às claras pensamentos que ainda estão em fase gestacional. Ah, e nem tem foto pra entreter, que não tive tempo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

César - de Jorge Luis Borges


Fui procurar descanso pra mente em uma área verde de Belo Horizonte. Sim, ainda há dessas coisas por aqui. E haverá, se este prefeito-empresário não destroçar o que resta com sua mente negociante. Pois bem, buscando descanso do estresse e dos tormentos da mente, sentei-me à beira do lago e folheei um livro bonitinho, chamado Atlas (e eu devo ser o primeiro a ousar descrever um livro do Borges como "bonitinho"). Pois bem (de novo), buscando descanso do estresse, dos tormentos e das inquietudes da mente, achei lá o corpo, pois, na página 11, me deparei com a profecia das coisas passadas, a visão do não-visto, pelas palavras do poeta porteño. Decidi transcrever aqui o poema. Está aí abaixo, ocupando o espaço para que eu não o utilize de modo errado (afinal, a mente ainda não descansou completamente, e eu teria baita vontade de usar expressões nada púdicas como "seus bundões!" no texto que eu de mim mesmo, pecador e falível, escreveria). Calo-me, pois.


César


Aquí, lo que dejaraon los puñales
Aquí esa pobre cosa, un hombre muerto
que se llamaba César: Le han abierto
cráteres en la carne los metales.
Aquí la atroz, aquí la detenida
máquina usada ayer para la gloria,
para escribir y ejecutar la historia
y para el goce pleno de la vida.
Aquí también el otro, aquel prudente
emperador que declinó laureles,
que comandó batallas y bajeles
y fue honor y fue envidia de la gente.
Aquí también el otro, el venidero
cuya gran sombra será el orbe entero.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A pergunta que Jesus não respondeu

O texto é Lucas 10:25-37.
A pergunta: "Quem é o meu próximo?".
A intenção de quem pergunta é "justificar-se a si mesmo". Como essa pergunta o justifica? Lembremos que ele acaba de citar "... e o próximo como a ti mesmo". E Jesus afirma que o que ele diz é correto, mas cutuca: "Faz isso e viverás!". Será que o interlocutor de Jesus reconhece, pelo imperativo usado por Jesus, sua deficiência prática, que ele tenta ocultar por sua excelência teórica? Será que por isso ele faz uma pergunta que talvez levaria a uma restrição de "próximo" - uma jogada teórica que camuflaria sua deficiência prática?
A resposta de Jesus vem com uma narrativa, a do bom samaritano, seguida de uma pergunta: "Quem dentre estes três parece ter sido próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?"
O interlocutor escolhe certo: o samaritano - "o qual agiu com misericórdia para com ele".
A resposta de Jesus é: "Vai e tu também faz de modo semelhante!" Ou seja, Jesus não responde, com a narrativa, a pergunta que o homem lhe havia feito. A história não dá a receita para identificar o "seu próximo", mas para "fazer-se próximo de" alguém.
O sujeito fugia para a reflexão e Jesus o trazia de volta para a prática. Ele queria averiguar pessoas e categorizá-las, mas Jesus queria que ele confrontasse seu próprio comportamento.
Será que o cristianismo não deveria ser, muito mais que uma religião de definições meticulosas de padrões e comportamentos (uma embevecida e eterna discussão halakhica entre gentios!), e sim uma resposta definitiva e intensa, prática e cotidiana, ao mandamento maior, permeada pelo anúncio do maior gesto de amor de todos os tempos, o sacrifício de Cristo para perdão dos pecados?
"Amarás a Deus sobre todas as coisas. E ao próximo como a ti mesmo!"
Abraço,
Cesar

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fé cristã e ecologia: a necessidade de uma atuação pela sustentabilidade


Em princípio e toscamente, alguém poderia pensar: “O que tem o cristianismo a ver com a sustentabilidade da vida neste planeta se o que lhe interessa é a coisa eterna e o novo mundo que há de vir no desenrolar escatológico?”


Um minuto mais de reflexão e lembraremos que o desenrolar escatológico, ainda que anunciado por vezes como iminente, encontra-se em um momento desconhecido (e fatalmente condenado a ser desconhecido). É já. Mas o já não é já determinável. É logo ali. Mas pode ser logo ali de mineiro.


Daí, percebemos que a vida neste planeta pode perdurar ou não durante mais anos ou séculos, mesmo que tenhamos fé viva no Eterno. Ainda assim, alguém poderia desprezar a matéria e atentar somente para o espírito e a proclamação do Evangelho. Afinal, não é esta a tarefa fundamental da Igreja? Sim. Mas para que um discurso seja ouvido, é preciso que haja ouvido para ouvi-lo. E é preciso que haja consciência humana além do ouvido. E é preciso que haja vida. É preciso que haja paz. E a paz é possível somente quando há condições mínimas de existência humana digna.


Aí entra a conversa que proponho. Se, no presente, o amor pelo semelhante se manifesta inclusive em justiça nas relações econômicas e sociais, no horizonte do que há de vir, manifesta-se no cuidado com o planeta legado. Certamente, é difícil para o ser humano a prática do amor para com o próximo. Ainda mais para com um próximo ainda inexistente, mas potencialmente existente em um tempo futuro! Cuidar do planeta é cuidar do ambiente que receberá o próximo que há de vir (ou que se espera que virá, mas não virá, dependendo do quando dos eventos finais). A conclusão disso é a seguinte: o peso do seu lixo é proporcional ao volume de seu amor para com o próximo potencialmente existente. Sim. Se seu lixo é pesado, significa que você separa os recicláveis. Lixo orgânico pesa mais.


Para descomplicar as coisas, encaminho a segunda metade do texto nos seguintes termos: Os cristãos podem e devem incluir em sua agenda a construção urgente de um modo de vida sustentável. A Bíblia dá mostras de que nossa fé interfere em toda nossa vida. Os conselhos de Paulo envolvem uma ética que vai do âmbito familiar ao profissional. Decerto, hoje, com as urgências atuais, nossa ética cristã deve incluir a dimensão ambiental, pois, diferente de alguns dos primeiros cristãos, aprendemos a suspeitar da iminência da segunda vinda de Cristo, mas sem deixar de atentar para a possibilidade de que tarde um pouco mais, que a paciência do Eterno se prolongue por algum tempo desconhecido.


A lógica capitalista sofre para acolher, na marra, a noção de sustentabilidade ambiental, pois o seu interesse é imediato e egoísta. O cristão, mesmo o cristão mais envolvido nos porões do capitalismo, deveria amar o próximo (e também o que vem próximo no tempo) como a si mesmo e ocupar-se com o cuidado dele. O cristão deveria ser sensibilizado pelo amor que nele está derramado pelo Espírito Santo, de modo a compreender o valor das pequenas mudanças. Ao contrário, o que vemos são reclamações e críticas contra as mobilizações favoráveis à preservação do ambiente. Se algo interfere no conforto costumeiro, o cristão, como todos os outros, reclama, não pensando no outro que há de vir. Mas se a novidade tecnológica agrada, ele não pensa duas vezes, não reflete um minuto sequer no estrago que pode fazer, no resíduo deixado. O resíduo é o legado que deixamos aos que estão por vir a ser?


Isso do lixo eu digo com respeito ao comportamento do cristão individualmente. E como comunidades? Estamos manifestando algum interesse pelo legado ambiental que deixaremos aos futuros próximos? Nossas igrejas dizem algo a respeito das questões ambientais locais, nacionais ou mundiais? Deixaremos o testemunho de pessoas que tentaram preservar a possibilidade de vida melhor?


A sustentabilidade da vida em condições ambientais adequadas não é preocupação contrária ou alheia à agenda cristã. Ao contrário, percebo uma bela oportunidade de testemunhar o amor a partir de ações atentas para as questões ecológicas que estão em voga. Construir um pensamento diferente sobre a vida, um estilo de ser livre do consumismo crescente, uma reflexão sobre a existência temporal de forma menos egoísta. Tudo isso é tarefa dos cristãos também.


O problema é que muitos cristãos estão sendo engolidos pela mediocridade da vida irrefletida. Já não estão conscientes de que o tempo passa rápido, de que a vida humana é como a de uma flor, que logo murcha. Já não percebem a vida, enquanto oportunidade de gesto de amor (de reconhecimento do amor divino e retribuição por meio do amor ao próximo), que deixa de acontecer enquanto eles só querem esbanjar própria vida, enquanto prática de ser egoísta. E outros tantos cristãos, mas menos tantos que os primeiros, estão vivendo uma fé de alma somente, como se o corpo não participasse da existência respaldada por Deus, o qual, é bom que não se esqueça, é o criador, tanto das coisas visíveis quanto das invisíveis.


Bem, e como a flor e a vida humana, murcha o texto também. Não o fiz sustentável a longo prazo. É precário e termina somente como um convite à reflexão. É possível viver diferente? É possível evitar o mal do mundo físico e, ao mesmo tempo, exercitar valores espirituais básicos da fé cristã? Eu julgo que sim. Eu acredito em vida após a tolice consumista.


Um abraço,


Cesar

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Belo Horizonte (CNF) - Passárgada (PGD), poltronas 14A e 14B



Olho para a moça no guichê e digo rápido:
- Quero duas passagens no próximo voo direto para Passárgada, poltronas 14A e 14B, por favor!
- Não tem voo para esse lugar em nossa companhia, senhor.
- Você sabe se tem em outra?
- Nunca ouvi falar, sinceramente.
- Tudo bem... Então me veja os horários de voos para Xangri-lá ou Macondo.
- Senhor, o senhor quer que eu chame o serviço de saúde do aeroporto? Acho que o senhor não se encontra bem.
- Por que você diz isso?
- Bem, senhor, é que esses lugares não existem? Receio que o senhor não esteja em perfeito juízo.
- Olha aqui, moça, quem não está em perfeito juízo é esta cidade daqui. As pessoas não respeitam as mais elementaries normas de convivência, trânsito, civilidade, limpeza etc, e você vem me dizer que estou sem juízo por querer sair daqui? E, no meio desse caos de asfalto perfumado com enxofre dos infernos ou dos ônibus, um vereador gasta mais de sessenta mil comprando coxinhas da madrasta, o prefeito mais de oitocentos mil em voos fretados, e eu não posso gastar uns míseros reais em uma fuga desorientada para qualquer lugar menos contaminado por essa realidade putrefata?
- Não é isso, senhor, o problema é que a fila está grande e o senhor me pedindo passagens para lugares imaginários.
- Quanta incompetência... Bom... Desculpe, moça, não vou mais te incomodar. O mais importante é que eu consiga sair daqui logo. Não precisa ser voo direto. Me vende aí duas passagens para Passárgada com quantas conexões forem necessárias. Poltronas 14A e 14B, por favor!



Cesar