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sexta-feira, 20 de maio de 2011

O "Pão Nosso" no Catecismo Maior de Lutero: fragmentos


Não é por razões somenos que inculcamos o Catecismo com tanto empenho e queremos e solicitamos que seja inculcado. Pois vemos que, infelizmente, grande número de pregadores e pastores são muito negligentes a esse respeito, e desprezam seu ofício e essa instrução. Uns por causa de sua grande e sublime erudição; outros, porém, em razão de mera preguiça e solicitude pela barriga. [...] Ah! que são deveras comilões despudorados e servidores do próprio ventre. Com mais justiça seriam porqueiros ou cachorreiros do que curas d'alma e pastores.

Esse trecho é só para dar uma noção do tom do prefácio escrito por Lutero para o Catecismo Maior. Agora, menciono de imediato dois trechos selecionados da explanação dedicada à quarta petição:

Para sumariá-lo em breves palavras: esta petição quer abranger quanto pertence a toda esta vida no mundo, porque apenas por isso necessitamos do pão cotidiano. Agora, à vida não pertence apenas que o corpo tenha alimento, vestuário e outras coisas necessárias, mas também que seja de tranquilidade e paz o nosso relacionamento com as pessoas com as quais vivemos e lidamos em diário comércio e trato e toda sorte de atividades; em suma, tudo o que se refere às relações domésticas e vizinhais, ou civis e políticas. Pois onde houver obstáculos quanto a essas duas partes, de forma que relativamente a elas as coisas não andem como deveriam andar, aí também está obstaculizado algo que é necessário à vida, de sorte que não se pode conservá-la por tempo dilatado.

[...]

Que miséria há no mundo agora, já simplesmente por causa de moeda falsa, sim, por causa do cotidiano gravame e alta de preços no comércio comum, em compra e trabalho, por parte daqueles que a seu arbítrio oprimem os pobres e os privam do pão de cada dia! Verdade que temos de suportá-lo; mas eles que se precavenham, não lhes suceda perderem a intercessão comum, e se acautelem para que essa partezinha do Pai-Nosso não se volte contra eles.

É isso! Impressiona-me a franqueza e a atualidade do que Lutero escreveu há quase quinhentos anos.

Um abraço,


C.

[Fonte das citações: Catecismo Maior, conforme Livro de Concórdia, traduzido por Arnaldo Schüler.]

Um comentário:

  1. Realmente são palavras atuais mesmo tendo quinhentos anos, mas é impressionante que nós ainda não temos consciência da importância dos catecismos de Lutero, é só dar uma olhada e vemos, por exemplo, a instruções hoje, preferimos manuais como Boas novas ou Pão da vida para a instrução. Estes manuais citados são construídos em cima de uma metodologia em que o pressuposto é o conhecimento pessoal nada de errado com isso, mas foge do pensar de Lutero, ele trabalha com uma metodologia que hoje consideramos ultrapassada o "inculcar" ou repetir com insistência, "decorar". Além disso, é um ensino continuado, pena que não temos esta coragem hoje. Devo dizer também que ele pregou sobre as cinco partes do púlpito antes de escrevê-lo. Só um pensar, como seria diferente!!!

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